Mulheres e trombose: os riscos das pílulas anticoncepcionais

Contraceptivos orais hormonais à base de estrógenos aumentam duas a seis vezes mais chances de mulheres desenvolverem tromboses

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Muitas mulheres famosas desenvolveram uma trombose venosa profunda (TVP) ou uma embolia pulmonar (EP). Uma delas é Serena Williams, tenista profissional americana. Entre três e nove mulheres em cada 10 mil que tomam pílulas anticoncepcionais orais, nos EUA, por exemplo, desenvolverão uma trombose potencialmente fatal. Enquanto isso, para aquelas que não estão em controle de natalidade, a probabilidade de desenvolver um coágulo sanguíneo é de um a cinco em cada 10 mil mulheres. Mais de 60 milhões de mulheres entre 15 e 44 anos naquele país usam alguma forma de contracepção ou controle de natalidade.

Especialistas recomendam que as mulheres sejam proativas e conheçam os sinais e sintomas desta doença, e os fatores de estilo de vida que podem aumentar suas chances de desenvolver tromboses. Saiba mais nesta última matéria da série Especial Trombose do Portal ViDA & Ação que marca o Dia Mundial da Trombose 2022, celebrado anualmente em 13 de outubro para alertar e informar sobre a doença.

Sinais e sintomas mais comuns

Conhecer os sinais e sintomas de uma trombose, e quando procurar atendimento médico pode salvar vidas, e estes incluem inchaço do membro afetado, dor ou sensibilidade não causada por lesão e pele quente ao toque, vermelha ou descolorida. Já os sinais e sintomas mais comuns de uma embolia pulmonar (EP) são: dificuldade para respirar, dor no peito que piora com respiração profunda ou tosse, tossir sangue e batimento cardíaco mais rápido que o normal ou irregular.

As pílulas anticoncepcionais à base de estrógenos aumentam as chances de as mulheres desenvolverem coágulos sanguíneos (tromboses) de duas a seis vezes mais do que as mulheres que não tomam a pílula. Além do controle de natalidade com uso deste tipo de contraceptivo, outros fatores também aumentam o risco de tromboses nas mulheres. 

Estes outros fatores incluem histórico familiar ou pessoal de coágulos sanguíneos ou distúrbio de coagulação do sangue; parto por cesariana; imobilidade prolongada devido, por exemplo, a um repouso mais longo que o usual no leito antes da gravidez ou na recuperação pós-parto; e certas condições médicas de longo prazo, como doenças cardíacas ou pulmonares ou diabetes. Na vigência destas condições, mulheres devem consultar seus médicos quanto à possibilidade de medidas para reduzir este risco.

Segundo Erich Vinícius de Paula, médico hematologista e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp), a gravidez também coloca as mulheres sob maior risco de desenvolver tromboses. “O risco de mulheres desenvolverem um coágulo sanguíneo nas veias, o que chamamos de trombose venosa, é cerca de quatro vezes maior durante a gravidez e até seis semanas após o parto. Cerca de uma em cada mil mulheres grávidas desenvolverá tromboses venosas, e esse risco aumenta à medida que envelhecem e a cada nova gravidez”, explica.

Durante a gravidez, o sangue da mulher coagula mais facilmente, o que é entendido como uma forma natural de diminuir a chance de perda de sangue durante o trabalho de parto. As mulheres grávidas também podem apresentar alterações no fluxo sanguíneo para as pernas nas fases mais tardias da gravidez, porque o bebê em crescimento pressiona os vasos sanguíneos ao redor da pélvis, lentificando o fluxo sanguíneo, o que aumenta o risco de trombose. Além disso, a limitação ou falta de movimento devido ao possível repouso no leito após ou durante o parto também limita o fluxo sanguíneo normal nas pernas, e contribui para o maior risco de trombose na gravidez.

“As mulheres na menopausa também enfrentam um risco aumentado de coágulos sanguíneos. Durante a menopausa, os ovários gradualmente param de produzir hormônios que regulam o ciclo reprodutivo. Quando os ovários das mulheres perdem a função, estrogênio, progesterona e testosterona não são mais produzidos. Uma diminuição desses hormônios faz com que as mulheres possam apresentar ondas de calor, dores nas articulações, fadiga, alterações de humor, ansiedade e uma ampla gama de outros sintomas. Diante deste quadro, elas podem usar a terapia de reposição hormonal à base de estrógenos, que se utilizados em altas doses também aumentam o risco de trombose venosa”, ressalta dr. Erich.

Tromboembolismo venoso responde por 9% de casos de mortes relacionadas à gravidez nos EUA

Relatório divulgado pelo Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC) revela que 4 em cada 5 mortes na gravidez poderiam ser evitadas; dados destacam oportunidades para melhor proteger as mães

Mais de 80% das mortes relacionadas à gravidez poderiam ser evitadas nos Estados Unidos, de acordo com dados de um relatório dos Comitês de Revisão de Mortalidade Materna (MMRCs, na sigla em inglês), divulgado pelo Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC), que analisou 1.018 mortes relacionadas à gravidez entre 2017-2019. As informações dos comitês em 36 estados americanos sobre as principais causas de óbito por raça e etnia podem ser usadas para priorizar intervenções que podem salvar vidas e reduzir as disparidades de saúde.

Entre as principais causas subjacentes de morte relacionada à gravidez nos EUA, o tromboembolismo venoso (TEV) foi responsável por 9% dos casos de óbito. Identificado no relatório como “embolia trombótica”, o TEV decorre da formação de uma trombose (coágulo de sangue) em alguma veia (em geral das pernas), e da migração de parte deste coágulo para os pulmões. Os sintomas da trombose nas pernas incluem dor, edema, enrijecimento e mudança da coloração. No caso da embolia pulmonar, que ocorre quando parte do coágulo se desloca para o pulmão causando uma obstrução da circulação pulmonar, os sintomas incluem desde quadros mais leves com dor torácica e certa falta de ar, até quadros críticos, levando à parada cardiorrespiratória e até a morte.

No Brasil, não há dados tão detalhados sobre a contribuição quantitativa da embolia pulmonar para a mortalidade materna. Porém, segundo dados do Ministério da Saúde, coletados entre os anos de 2010 e 2021, o número de internações relacionadas a tromboembolismo venoso ultrapassou 520 mil, com um total de mais de 67 mil óbitos entre 2010 e 2019. Para alertar, conscientizar e prevenir a doença entre profissionais da saúde, pacientes e entidades do governo e do terceiro setor, anualmente, em 13 de outubro, é lembrado o Dia Mundial da Trombose.

“O estudo do CDC, nos Estados Unidos, aponta que a maioria das mortes relacionadas à gravidez era evitável. Os dados revelam a necessidade de iniciativas de melhoria de qualidade nos sistemas de saúde, tanto público como privado, que garantam que todas as pessoas grávidas ou pós-parto recebam os cuidados certos no momento certo. Mas não somente os sistemas de saúde, também comunidades, famílias e outros serviços de apoio precisam estar cientes das complicações relacionadas à gravidez e serem envolvidos em medidas que evitem mortes desnecessárias”, enfatiza Erich de Paula, médico hematologista, professor associado da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp) e membro da Sociedade Brasileira de Trombose e Hemostasia (SBTH).

Para o especialista, em se tratando de TEV, o relatório do CDC é uma alerta para um cenário que tem tudo para ser muito semelhante no Brasil, onde o número de mortes maternas relacionadas à gravidez é infelizmente muito maior. “Os dados do estudo dos EUA chamam atenção para a necessidade de que tanto pacientes quanto profissionais da saúde estejam cada vez mais cientes das melhores práticas para prevenção do tromboembolismo venoso durante a gestação. Ele também mostra que sangramentos representam uma causa importante de morte relacionada à gestação, o que também deve servir de alerta para o uso exagerado de medicamentos anticoagulantes na gestação”, ressalta o médico hematologista.

Além da TEV (9%), o relatório do CDC aponta que as demais causas de morte relacionada à gravidez incluem as condições de saúde mental, incluindo óbitos por suicídio e overdose/envenenamento relacionado ao transtorno por uso de substâncias (23%); hemorragia (14%); condições cardíacas e coronárias (13%); infecção (9%); cardiomiopatia, uma doença do músculo cardíaco (9%); e distúrbios hipertensivos (pressão alta) da gravidez (7%).

O estudo pondera que a principal causa básica de morte varia por raças e etnias da população estadunidense. As doenças cardíacas e coronárias foram a principal causa subjacente de mortes relacionadas à gravidez entre negros; as condições de saúde mental, para pessoas brancas hispânicas e não hispânicas; e a hemorragia, para asiáticos não hispânicos.

Para acessar o estudo completo do CDC, clique aqui.

Com Assessorias

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